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A mostrar mensagens de junho, 2025

Burocracia insana e “cultura de quintal” na Administração Pública cabo-verdiana

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  Há mais de três meses que estou à espera da emissão, por parte da DGPOG do Ministério das Finanças, de uma simples declaração do tempo de serviço relativo à minha passagem por esse departamento, onde exerci funções governativas. Não há nada em falta, na medida em que anexei cópias de Boletim Oficial com as respetivas datas de nomeação e exoneração. Mesmo assim, já lá fui uma dezena de vezes e a resposta tem sido ou que se está à espera de despacho superior, ou de assinatura. Trata-se de um caso pessoal, e eu tenho a possibilidade e, sobretudo, a coragem de o denunciar. Mas, há vários outros, de pessoas anónimas, ou nem por isso, que, por diversas razões, não os denunciam. Então, pergunto: porquê que eu e os outros cidadãos somos obrigados a passar por este calvário, quando o Governo vem alardeando uma Administração Pública (AP) cada vez mais moderna, eficaz e célere ao serviço dos cabo-verdianos?   Embora se tenham registado avanços importantes, como a digitalização de a...

50 anos da Independência de Cabo Verde: Necessidade de uma abordagem integrada e duradoura dos Transportes

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Os transportes, especialmente entre ilhas , e a logística de distribuição interna são um obstáculo significativo ao desenvolvimento de Cabo Verde, afetando a economia, o turismo e o comércio. Com efeito, o nosso país, insular por natureza, enfrenta desafios estruturais que impedem a integração plena das diversas ilhas. A falta de infraestruturas adequadas, os custos elevados e a escassez de opções de transporte eficiente dificultam a integração dos mercados, limitam o acesso a serviços essenciais e comprometem a produtividade. Por outro lado, s em um sistema de transporte que funcione com regularidade, a coesão social e a mobilidade dos cidadãos ficam seriamente comprometidas. Num contexto em que o país celebra meio século de independência, convém refletir sobre os desafios que se impõem para assegurar que cada ilha se comunique de forma eficaz com as restantes, garantindo que os serviços de saúde, educação e comércio não fiquem isolados pela distância. A peculiaridade geográfi...

A simbiose necessária: Reforçar a interação turismo‐economia local

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Cabo Verde, arquipélago de beleza única e cultura vibrante, tem no turismo o principal pilar da sua economia. O conjunto de paisagens vulcânicas e praias de areia branca, aliado à hospitalidade calorosa do seu povo e à riqueza das tradições – música, gastronomia e artesanato – tem vindo a atrair um número crescente de visitantes, sobretudo provenientes de países europeus. Este aumento contínuo, que se traduz na marca histórica de um milhão de turistas em 2023, ultrapassou o recorde de 819 mil visitantes registado em 2019 (ano pré-pandémico) [1] , demonstrando uma recuperação robusta e a capacidade do setor em se adaptar e prosperar, mesmo em cenários adversos.   O impacto do turismo em Cabo Verde estende-se para além do setor hoteleiro, alcançando, com maior ou menor intensidade, áreas como a restauração, o transporte, o entretenimento e diversas cadeias de suprimentos, desde a agricultura até ao artesanato.   Em 2019, o turismo representava 21,3% do Produto Interno Br...

Sociedade civil adormecida e "doutores clandestinos". Desperta, Cabo Verde!

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  Uma sociedade civil ativa e participativa é crucial para o fortalecimento da democracia, bem como para um desenvolvimento social e económico equitativo. A sua importância reside na capacidade de influenciar políticas públicas, promover a justiça social, garantir o respeito pelos direitos humanos e reforçar a estabilidade democrática. De facto, sem uma sociedade civil robusta e interventiva, o poder político governa com menos escrutínio e com menos contrapesos. As políticas públicas correm o risco de ser desenhadas e implementadas sem a devida auscultação e participação dos seus destinatários, afastando‑se das reais necessidades e aspirações da população.   Como tal, uma sociedade civil vibrante é um componente essencial de sociedades democráticas e de economias sustentáveis, inclusivas e bem governadas.   Em Cabo Verde, vivemos um paradoxo inquietante: um país que, na década de 1990, emergiu como exemplo de emancipação cívica e de participação democrática, ...

Liderança Política em Cabo Verde no “Zeitgeist” de Peter Drucker (II)

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  Peter Drucker, o lendário guru da gestão, enfatizaria que um líder político eficaz em Cabo Verde não é quem seduz pelo carisma, mas quem produz resultados concretos que melhorem a vida dos cabo-verdianos. Neste sentido, Drucker lembraria aos dirigentes políticos cabo-verdianos que as suas principais tarefas consistem em perceber o que realmente querem e necessitam os cidadãos, transformar essas necessidades em objetivos claros e medir a eficácia das políticas através de indicadores concretos. O político eficaz, segundo a perspetiva druckeriana, deve estruturar processos que garantam feedback real da sociedade e que mantenham a programação das suas iniciativas alinhada com o bem-estar coletivo. Esse enfoque remete para a definição de missão e propósito estratégicos, bem como para a “gestão por objetivos”. Transposto para a liderança política, este princípio sugeriria que cada governo ou executivo local em Cabo Verde deveria definir, logo no início do mandato, metas concretas – n...

Liderança Política em Cabo Verde no “Zeitgeist” de Peter Drucker (I)

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  Vivemos numa era marcada por uma crise de confiança generalizada, pela volatilidade geopolítica, polarização exacerbada e desafios globais complexos. Peter Drucker, o visionário da gestão, deixou-nos em 2005, mas o seu pensamento permanece de uma atualidade desconcertante. Se pudesse observar o panorama atual da liderança política, o que diria ele? Porventura, Drucker sublinharia a urgência de revisitar os fundamentos da “liderança eficaz”, desenvolvidos no seu livro “The Effective Executive” (O Executivo Eficaz), publicado em 1967, adaptando-os com pragmatismo ao contexto atual. Drucker, um observador arguto das organizações e da eficácia da liderança, certamente analisaria o atual panorama político com a sua habitual clareza e pragmatismo. A sua obra seminal enfatiza consistentemente que a liderança não se confunde com carisma ou popularidade, mas sim com resultados. “Liderança é fazer as coisas certas”, afirmava ele. Aplicado ao contexto político contemporâneo, isto implicaria...

Descalabro da confiança e da transparência na gestão da “res publica” em Cabo Verde

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  A edificação de uma economia próspera e de uma democracia vibrante assenta em alicerces que, embora invisíveis, são absolutamente essenciais: a confiança dos cidadãos nas suas instituições e a transparência na gestão da coisa pública. Sem estes pilares, as instituições públicas perdem legitimidade, os mercados tornam-se voláteis e a democracia enfraquece, impactando negativamente o processo de desenvolvimento. Historicamente, Cabo Verde tem sido apontado como um exemplo de estabilidade democrática e de boa governação em África. No entanto, o cenário atual revela um quadro muito mais complexo e, por vezes, perturbador, onde a confiança dos cidadãos nas instituições e a transparência na gestão dos recursos públicos têm vindo a declinar de forma acentuada. Com efeito, segundo o inquérito realizado pela Afrosondagem entre 27 de agosto e 10 de setembro de 2024, a confiança dos cabo-verdianos em diversas instituições da República tem registado quedas alarmantes nos últimos anos. Esta d...